Teologia

página apresentada em 13/09/2000

A música de fundo se chama "Ninguém te ama como eu" e é uma das músicas que mais gosto

O planeta dos muros

   Os seres humanos na busca de defesa aprenderam a construir muros. São especialistas nessa atividade. São muros altos, baixos, aramados, tijolados, pintados, agressivos, bonitos, eletrificados, com monitores de última geração ou guardados pelo mais antigo amigo/inimigo do homem: o cão! Cuidado com o cachorro! Às vezes, ficamos em dúvida sobre quem é mais feroz: o cão ou o dono... 
Regra geral, são muros para separar nossa tranqüilidade dos inconvenientes vendedores de qualquer coisa, principalmente dos pobres que insistem e não desistem de seus pedidos. Alguns muros ficaram célebres. Há quem vá à China só para contemplar as muralhas que pretendiam separar esse país do resto do mundo. O Muro de Berlim, deitado abaixo recentemente, provou que a cidade se tornou muito mais humana e bela sem ele. Até a Bíblia relata sobre as muralhas de Jericó que desabaram ao clamor do povo e das trombetas no tempo de Josué. Povo feliz é o que consegue esmigalhar as suas muralhas!
Há, no entanto, outros muros que precisam desaparecer. Esses muros dificilmente desmoronam. Eles não foram construídos ao nosso redor, mas dentro de nós. Seus alicerces são tão profundos que, quando pensamos que desabaram de vez, ainda sobram muitas pedras encravadas nas nervuras de nossas vidas. Enquanto restar alguma pedra, conservaremos as moléstias do egoísmo, do preconceito, do racismo, do individualismo ou de outros cancros semelhantes que fazem a vida perder a cor, o sabor e a esperança.
Infelizmente, muitos de nós trazem escritos no semblante ou nas atitudes as expressões "cuidado com o cão", "propriedade particular", "se entrar eu atiro" e, sendo um pouco mais globalizado e esnobe, bota a placa de "danger, keep out!". Há a nítida sensação de uma barreira intransponível entre nós que cerceia qualquer aproximação. Procure observar o seu dia a dia para descobrir o quanto de muros estamos plantando. São muros dentro de nossas casas, em nosso ambiente de trabalho, na convivência diária, na direção do automóvel, no andar pela rua, na igreja... Sem reconhece-los, não há como derrubá-los.
São essas verdadeiras muralhas que impedem o fluir da fraternidade, que nos tornam tão desiguais, que nos causam insensibilidade e nos fazem viver em constante defensiva. O mundo de irmãos só é possível dando as mãos e não erguendo muros. Não é por acaso que Jesus morreu em lugar elevado, descampado e com os braços abertos. O cristão que queremos ser, será reconhecido como desmoronador de muros e construtor de pontes. Ou, se assim não for, dias virão em que esses muros serão derrubados pelo inconformismo e pela violência dos oprimidos e ninguém virá em nosso socorro. A quem apelar, se nunca estive antes ao lado de alguém? 
Lembro-me de um amigo, um poeta desconhecido, mas de primeira grandeza, que certa vez escreveu-me: "Não plantemos jamais um muro entre nós. Só uma flor. O Amor!". 

© João José Corrêa Sampaio

Meus comentários


Os muros nem sempre são representados pelas paredes de tijolos que conhecemos.  Há que se considerar que existem muros muito maiores que cercam-nos, tapando-nos a visão do belo mundo que Deus nos deixou como legado - o egoísmo, a inveja, o rancor, o orgulho, entre muitos tantos outros muros.  Não bastasse tudo isso, impedem também a visão do sol nascente, criando a ilusão que o mundo é constituído apenas de reflexos do sol e não da luz que nos aquece ao amanhecer.
  
   Assistindo o filme "A espera de um milagre" podemos somar alguns exemplos. John Coffey, diferente de café, como ele mesmo dizia, tinha carregado até o momento de sua prisão, todo o mal do mundo.  Negro, foi discriminado.  Gigante, foi considerado assassino perigoso - entretanto havia mais ternura nele que em todos os outros elementos do filme. Acusado por um crime no qual acidentalmente se envolveu. Claro, fora os atenuantes das circunstâncias, era o culpado em potencial. As testemunhas ("vítimas ?") o crivavam de picadas desejando-lhe morte dolorosa na cadeira elétrica.  Foi símbolo dos excluídos - nem seu próprio advogado acreditou nele.  Antes de partir uma frase para a posteridade: "eu vou para um lugar melhor, já estou cansado de não ter ninguém para me cumprimentar, perguntando se passei bem.  Indo de um lugar para outro assistindo a maldade que há em toda parte do mundo". Creio que o personagem derrubou seu muro...


  Não vou retirar esse texto, porque ele é um protesto.  Solitário, mas um protesto á crueldade humana.

24 - 03 - 2000
KOSOVO
Mulheres de Kosovo dão à luz a bebês gerados em abuso sexual de sérvios

BONN. Um ano depois de iniciados os 78 dias de bombardeios da Otan em Kosovo, completado hoje, a vida de milhares de fugitivos está longe de voltar ao normal. Dos 900 mil kosovares albaneses que deixaram suas casas, 70 mil continuam longe delas. Sobretudo mulheres sofrem os traumas da guerra e da violência sexual praticada pelos sérvios. Isabela Stock, da organização Medica Mondiale, de Colônia, na Alemanha, conta que pelo menos cem bebês nascidos em Pristina e nas redondezas foram abandonados pelas mães por terem sido gerados em estupros.
A organização abriu um centro de terapia em Gjakove, Kosovo, onde trata 650 mulheres que são duplamente vítimas da guerra. Além de terem perdido casa, marido e de serem marcadas pela violência sexual, são punidas pelo puritanismo e patriarcalismo de suas famílias muçulmanas. Mamara, de 17 anos, vive no centro, acaba de ter um bebê e não tem para onde ir.
- Muitas mulheres se suicidam por não encontrarem uma saída para sua situação - diz Isabela, depois de voltar de uma viagem aos centros de terapia da Medica Mondiale.
      Com o marido, Iso, e a filha de 4 anos, Teuta fugiu de Pristina para a Alemanha pouco depois do inicio dos bombardeios da Otan. Há quatro meses teve mais uma menina, Rida, filha de um desconhecido sérvio, gerada em um dos estupros de que foi vítima nas três semanas que passou numa prisão sérvia. Os quatro vivem em Berlim, num quarto cedido pela Prefeitura, mas em breve serão obrigados a deixar a cidade. Com o fim da guerra, os fugitivos perderam o direito de ficar na Alemanha. A mulher que admite ter sido vítima de estupro é abandonada pelo marido e até pelos pais.

Fonte: O Globo

Não deixemos nosso foco espiritual centrar na questão do "aborto" ou do "abandono" mas no "estupro", uma das atitudes "humanas" mais cruéis que podem ser cometidas. É uma desgraça que, no limiar do século XXI, ainda existam "homens" que pensem e ajam desta forma.


Boa leitura e que Deus o abençoe. E se sentir vontade de dizer algo, clique aqui para enviar sua opinião ou comentários. Creia, eles serão bem-vindos.

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