Corpus Christi e corpos tristes
A sociedade capitalista
possui um critério terrivelmente injusto: o da utilidade. O útil é
valorizado, buscado, desejado, aproveitado, sugado ao máximo. O inútil é
desprezado, descartado, marginalizado ou jogado fora como entulho. Na
verdade, o útil é o que dá lucro e os nossos melhores sentimentos só são
válidos porque eles podem gerar capital. O amor de mãe é incentivado, o
Natal é vivenciado e/ou as datas são comemoradas porque por detrás dessas
manifestações estão os lucros altíssimos dos que comandam as nossas
vontades. Na verdade, os nossos corpos são cobiçados. Eles inclusive são
divididos em úteis e inúteis. O nosso ambiente social exige que tenhamos
corpos dóceis, obedientes, habilidosos, bem preparados para o mundo do
trabalho. Corpo que não trabalha não serve, Não é por acaso que nossos
corpos passam pelas nossas escolas para serem amoldados, enformados,
prontos para serem devorados pelo competitivo mundo da labuta. Não sei
se muitas das nossas escolas têm percebido que estão apenas servindo aos
interesses mesquinhos de uns poucos poderosos. Nem sempre estamos educando
as pessoas para a vida, mas para continuar repetindo o gesto tirânico de
acumular. Os corpos que não se adaptar ou não se prepararam para essa roda
viva estão fora do mercado e dos privilégios... Que privilégios! E os
corpos se debatem na busca dos espaços minguados como as mariposas ao
redor das lâmpadas! Como a competição é acirrada, poucos corpos se
apoderem dos melhores benefícios enquanto corpos em profusão vivem à
margem, comendo dos restos que os ricos jogam fora. Se você, meu amigo
de fé e companheiro da mesma jornada, acha que estou exagerando, dê uma
corrida d'olhos pelas ruas, praças e as vila periféricas de nossa cidade:
são corpos de crianças que nos aborrecem nos cruzamentos, são corpo
migrantes que buscam trabalho, são corpos idosos que vivem desesperados
pelo descaso dos governantes, são corpos de mulheres que ainda vivem
subjugados pela doença do machismo, são corpos comprado pelo salário de
fome que pagamos... O pior é descobrir que nós mesmo vendemos o nosso
próprio corpo. Se você está duvidando, veja qual é o desfigurado! Estranho
que os corpo continuem sendo mutilados, desgastados, amordaçados,
assassinados e massacrados para que uns poucos mantenham os seus
privilégios. Muitos de nós, cristãos, temos assistidos a tudo de
camarote, como se não tivéssemos nada a ver com isso. Se não acontece
conosco, não é nosso problema. Estamos celebrando há muitos anos a
festa de Corpus Christi. Fazemos nosso ato de fé na presença real de Jesus
como o Santíssimo Sacramento em nossas vidas e nos emocionamos perante Sua
presença amorosa, mas ainda relutamos em aceitar a realidade dos corpos,
que, costumeiramente chamamos de irmãos, serem consumidos diante nossos
olhos. É mais fácil passar horas diante do Cristo Sacramentado que do
Cristo que se apresenta todos os dias diante de nós de muitas formas
corporais. Temo que esse mesmo Senhor também nos chame de "sepulcros
caiados", belos por fora mas podres e fétidos por dentro. Ouço
com clareza Ele nos alertando: - "Buscai primeiro o reino de Deus e a sua
Justiça... " . Vamos comemorar, de modo sincero e irrepreensível, o
Corpus Christi se lutarmos pela não existência de corpos tristes. Esses
corpos podem nos incomodar testemunhando contra nossas vidas. Eles serão
os sinais lamentáveis de nosso próprio julgamento. Contra fatos não há
argumentos. Não permitamos que uma hierarquia de corpos se estabeleça
entre nós. Quebremos os muros da ganância e da exploração. Plantemos entre
nós jardins floridos onde a planta mais significativa seja o
amor!
ã João José Corrêa
Sampaio |
Meus
comentários
Impressionante como estamos conectados
de forma tão enraizada, tão profunda com os pensamentos da
coletividade. Quando li o texto do Sampaio senti como se estivesse
vendo a sociedade dividida em duas partes : uma totalmente distanciada da
vida, estando em dúvida sobre onde irá almoçar, se em Paris ou Nova York;
A outra, em dúvida se irá comer alguma coisa hoje.
É sem dúvida uma discrepância que nos
chama à reflexão. Se de um lado estou saturado de tanta injustiça,
de outro não tenho recurso para sequer pensar em uma solução. Ao ler
Lc 16,19-31:
19 Ora, havia um homem rico que se
vestia de púrpura e de linho finíssimo, e todos os dias se regalava
esplendidamente. 20 Ao seu portão fora deitado um mendigo, chamado
Lázaro, todo coberto de úlceras; 21 o qual desejava alimentar-se com as
migalhas que caíam da mesa do rico; e os próprios cães vinham lamber-lhe
as úlceras. 22 Veio a morrer o mendigo, e foi levado pelos anjos para o
seio de Abraão; morreu também o rico, e foi sepultado. 23 No inferno,
ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe a Abraão, e a Lázaro
no seu seio. 24 E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de
mim, e envia-me Lázaro, para que molhe na água a ponta do dedo e me
refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama. 25 Disse,
porém, Abraão: Filho, lembra-te de que em tua vida recebeste os teus bens,
e Lázaro de igual modo os males; agora, porém, ele aqui é consolado, e tu
atormentado. 26 E além disso, entre nós e vós está posto um grande
abismo, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam,
nem os de lá passar para nós. 27 Disse ele então: Rogo-te, pois, ó pai,
que o mandes à casa de meu pai, 28 porque tenho cinco irmãos; para que
lhes dê testemunho, a fim de que não venham eles também para este lugar de
tormento. 29 Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas;
ouçam-nos. 30 Respondeu ele: Não! pai Abraão; mas, se alguém dentre os
mortos for ter com eles, hão de se arrepender. 31 Abraão, porém, lhe
disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda
que ressuscite alguém dentre os mortos. Me
perguntei:"Será que as pessoas pensam que podem estar nessa
situação?" Por quanto tempo ainda continuaremos a ver o mundo apenas
com nossos olhos?

Eu Não quis retirar esse texto mais uma
vez em protesto á crueldade humana.
24 - 03 - 2000
KOSOVO Mulheres de Kosovo dão à luz a
bebês gerados em abuso sexual de sérvios
BONN. Um ano depois de iniciados os 78 dias de
bombardeios da Otan em Kosovo, completado hoje, a vida de milhares de
fugitivos está longe de voltar ao normal. Dos 900 mil kosovares albaneses
que deixaram suas casas, 70 mil continuam longe delas. Sobretudo mulheres
sofrem os traumas da guerra e da violência sexual praticada pelos sérvios.
Isabela Stock, da organização Medica Mondiale, de Colônia, na Alemanha,
conta que pelo menos cem bebês nascidos em Pristina e nas redondezas foram
abandonados pelas mães por terem sido gerados em estupros. A
organização abriu um centro de terapia em Gjakove, Kosovo, onde trata 650
mulheres que são duplamente vítimas da guerra. Além de terem perdido casa,
marido e de serem marcadas pela violência sexual, são punidas pelo
puritanismo e patriarcalismo de suas famílias muçulmanas. Mamara, de 17
anos, vive no centro, acaba de ter um bebê e não tem para onde ir. -
Muitas mulheres se suicidam por não encontrarem uma saída para sua
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