Teologia

página apresentada em 02/04/2000

A música de fundo se chama "Ninguém te ama como eu" e é uma das músicas que mais gosto

Caixa de Pandora

Segundo a mitologia, Pandora recebeu das mãos de Zeus, o maior deus dos gregos, uma caixinha onde continha todas as desgraças e problemas do ser humano. Ela deveria entregá-la a Epimeteu sem olhar o que havia dentro, mas conforme a narrativa mítica, movida por intensa curiosidade, abriu a caixa só um pouquinho, o suficiente para espiar o seu conteúdo e acabou deixando escapar pela terra toda a sorte de maldade e de sofrimento.
E lá se encontravam a tristeza, a dor, o ódio, o ciúme, a vingança, a injustiça, a exclusão social, a incerteza, a omissão, a insegurança, a doença, a covardia e a alienação, entre tantas outras coisas ruins. Apavorada, mais que depressa fechou a pequena caixa, mas só houve tempo de reter dentro dela a esperança. Ainda bem que no meio de tantas contrariedades há algo que se agarrar! Penso que a mentalidade mítica continua viva diante da expressão que usamos até hoje: "A esperança é a última que morre!". Há quem acredite que ela é a primeira a surgir em nossos projetos de vida.
Fico a pensar que, como os gregos, persistimos em agir miticamente diante das explicações que damos para justificar os revezes presentes em nosso meio. E isso nps favorece porque nos desobrigamos de qualquer comprometimento mais sério. Já não sabemos mais quem foram ou o que fizeram Zeus e Pandora, mas continuamos a prezar o costume de colocar nas costas de Deus as culpas de tantas mazelas que povoam o planeta Terra. São nossas duas expressões comuns: "Deus, sendo tão bom, como permite tantas desgraças..." ou "Deus quer assim, assim seja!". Tenho muito medo dessas interpretações sobre os porquês da presença do sofrimento em nosso meio. Essas desculpas têm o mau cheiro de covardia, de gente incapaz de reagir ou, então que tira sempre proveito da situação... É a turma do quanto pior, melhor!
No mundo dos mortais, há muito deusinho despejando ordens, nada realizando, culpando e pronunciando desculpas o tempo todo. Na expressão italiana, vive o "dolce fà niente", na expectativa de que o mundo lhe sorria sempre. É comum, por exemplo, muito cristão considerado consciente jogar papéis, bitucas, latinhas de cerveja ou outros tapa bueiros pelas ruas e ser o primeiro a lançar nas costas da Prefeitura a culpa pela última enchente. A passar em alta velocidade pelas vias, dizer palavrões para todo o mundo, entrar na contramão, forçar a passagem, ultrapassar perigosamente, avançar o sinal vermelho e ainda achar que neste País não se ensina eduração. Isso ainda é pouco. A miséria para esse cidadão é explicada simplesmente como fruto da vagabundagem, da falta de vontade de vencer na vida, da incompetência. Afinal, pensa ele, só não trabalha quem não quer! "Vejam a meu exemplo..".
Eu sei que o mundo mítico com as suas narrativas fantásticas fazia essa interpretação do mundo. Tudo o que existia de bom ou de mau era pura intervenção dos deuses. Creio que tal pensamento deveria ser banido, principalmente das pessoas de fé, que apostam em um mundo novo, com pessoas novas e com o rosto de Deus. O Profeta Jeremias já lutava no seu tempo contra essa mentalidade perigosa. Ele insistia sobre a responsabilidade pessoal. Cada um é responsável pelos seus atos, e cedo ou tarde vai dar conta por eles (Cf.Jr 31,29-30). A nova Campanha da Fraternidade, acreditando em nós, mais uma vez nos convida à desinstalação e a buscar ações efetivas que gerem mais vida no meio da sucata existencial de tantos!

© João José Sampaio Corrêa
membro da equipe Arquidiocesana
da campanha da Fraternidade

Caríssimos:

João José Sampaio Corrêa. Outro brilhante cidadão que ainda não tive a felicidade de conhecer pessoalmente, mas que consegue, com bastante criatividade, alertar-nos sobre nossas atividades cristãs. O cristão é conhecido e definido como àquele que segue Jesus Cristo, mas será que realmente o seguimos ? Não, meu caro amigo, eu também não o sigo completamente. Não se trata apenas do efeito "salvação", onde nossa única e exclusiva determinação é a nossa salvação, apenas a nossa.
Talvéz algumas vezes nós devessemos repensar nossos hábitos e comportamentos. Já li diversas expressões para eles: "dinossauro", "passividade", "ignorância", "comodismo", etc..

Ah! Também já tive a curiosidade de ver onde me enquadrava e me assustei de ver que me encaixava em várias modalidades - sou humano.

Independente de nossa formação social e espiritual, vamos aproveitar esta Quaresma para, com uma reflexão profunda, tentar mudar esses maus hábitos e nos aproximarmos mais de Deus. É fácil; pense nos seus gestos mesquinho, na ingratidão, na indiferença com seus semelhantes, nos gestos cruéis de nosso dia a dia, nos quais poderiamos ao menos, nos diferenciarmos dos animais irracionais - ao que parece eles tem um comportamento mais cristãos do que a maioria dos nossos comportamentos. As mulheres são nossas vítimas preferidas. Até quando ? Leia a mensagem seguinte que colhi na Internet:


24 - 03 - 2000
KOSOVO
Mulheres de Kosovo dão à luz a bebês
gerados em abuso sexual de sérvios

BONN. Um ano depois de iniciados os 78 dias de bombardeios da Otan em Kosovo, completado hoje, a vida de milhares de fugitivos está longe de voltar ao normal. Dos 900 mil kosovares albaneses que deixaram suas casas, 70 mil continuam longe delas. Sobretudo mulheres sofrem os traumas da guerra e da violência sexual praticada pelos sérvios. Isabela Stock, da organização Medica Mondiale, de Colônia, na Alemanha, conta que pelo menos cem bebês nascidos em Pristina e nas redondezas foram abandonados pelas mães por terem sido gerados em estupros.
A organização abriu um centro de terapia em Gjakove, Kosovo, onde trata 650 mulheres que são duplamente vítimas da guerra. Além de terem perdido casa, marido e de serem marcadas pela violência sexual, são punidas pelo puritanismo e patriarcalismo de suas famílias muçulmanas. Mamara, de 17 anos, vive no centro, acaba de ter um bebê e não tem para onde ir.
- Muitas mulheres se suicidam por não encontrarem uma saída para sua situação - diz Isabela, depois de voltar de uma viagem aos centros de terapia da Medica Mondiale.

Com o marido, Iso, e a filha de 4 anos, Teuta fugiu de Pristina para a Alemanha pouco depois do inicio dos bombardeios da Otan. Há quatro meses teve mais uma menina, Rida, filha de um desconhecido sérvio, gerada em um dos estupros de que foi vítima nas três semanas que passou numa prisão sérvia. Os quatro vivem em Berlim, num quarto cedido pela Prefeitura, mas em breve serão obrigados a deixar a cidade. Com o fim da guerra, os fugitivos perderam o direito de ficar na Alemanha.
A mulher que admite ter sido vítima de estupro é abandonada pelo marido e até pelos pais.

Fonte: O Globo


Não deixemos nosso foco espiritual centrar na questão do "aborto" ou do "abandono" mas no "estupro", uma das atitudes "humanas" mais cruéis que podem ser cometidas. É uma desgraça que, no limiar do século XXI, ainda existam "homens" que pensem e ajam desta forma.


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