página apresentada em 21/05/2000

A música de fundo se chama "Ninguém te ama como eu" e é uma das músicas que mais gosto

Cansados e decepcionados

A narrativa do Evangelista Lucas (cf. Lc 24,13-32) sobre os discípulos de Emaús, é uma revisão dos dias atuais. Depois da imensa expectativa na pessoa de Jesus, os dois discípulos expressavam a sua decepção pelo desfecho ignominioso da morte na cruz. A esperança de uma vida diferente e mais humana fora jogada fora. Agora que as coisas pareciam melhorar, que o povo voltava a apostar em tempos de paz e prosperidade, há o desmoronamento. Pior que a decepção foi a fuga dos que demonstraram ser tão fortes e decididos. Cortar a árvore, vá lá, mas arrancá-la eliminando até as raízes, isso já era demais! Não há ser humano que agüente ver o tempo passar e sofrendo derrota após derrota...
O nosso País também foi tomado dessa decepção ao comemorar os seus quinhentos anos de existência. Que existência!? Celebrar com o vinho odoroso da alegria ou com o pão sem fermento e as folhas amargas da opressão? Parece-me que o vinho foi dispensado ou tornou-se vinagre... 
   Um jovem índio pataxó decidiu assumir o "grito dos excluídos" na missa solene e desabafou publicamente a decepção!    Aplausos aos nossos bispos que acolheram esse gesto corajoso. No mínimo, um humilde modo de pedir perdão e creio que sincero... Realmente, como louvar o Senhor se há desacertos entre nós? Foi, sem dúvida, um ato de singeleza evangélica. E nada melhor que uma boa chuva durante a cerimônia para lavar as nossas lágrimas de vergonha e arrependimento!
Outros momentos anteriores de celebração demonstraram lamentáveis incoerências, pois enquanto alguns cantavam glórias e louvores na Jerusalém de Porto Seguro, no seu lado uma pequena, mas representativa multidão de excluídos mostrava ao Papa e ao mundo que no Calvário ainda são toleradas, em nome de Deus, da lei e da ordem execuções dos mais fracos e desprotegidos. Apesar de todos os nossos complicados problemas, continuamos a acreditar, a ter orgulho desta terra e deste povo. O desabafo do pataxó há de ser o sêmen de uma nova geração de brasileiros esclarecidos, conscientes e decididos. De fato, não podemos concordar jamais com as atitudes pusilâmines de uma sociedade anestesiada, que já não reage ante a opressão, que dorme para fazer de conta que não sofre ou foge da raia como se a luta não fosse sua. Não vamos permitir mais o mau cheiro dos desmandos públicos como se não houvesse a possibilidade de limpeza e ar sem poluição. A palavra de ordem é buscar um mundo novo e jamais assassinar a esperança e os que lutam por ela.
Tenho plena convicção de que, em meio às decepções dos últimos acontecimentos, Jesus está ao lado caminhando conosco, talvez afirmando sobre a necessidade de até passarmos por tudo isso, mas com a decisão clara e objetiva de despertarmos para a vida plena a que somos chamados. Para os que crêem no poder de Deus, é sempre tempo de começar. Jesus, como sua ressurreição, claramente sentenciou que não fomos criados para sermos anulados nos porões ou sepulturas, mas para partilhar fartamente o pão ao redor da mesa, na alegria!

ã João José Corrêa

Meus comentários

   É a partilha o princípio mais cristão que todos deveríamos exercer.  Não será com egoísmo e individualismo que mudaremos o mundo.  Mas, me pergunto, como aplicar isso a solidariedade onde o próprio sistema de vida é egoísta.
      São poucos os lugares onde podemos dizer:"Ah! Aqui se vive a verdadeira solidariedade e fraternidade que Cristo pregou!"
   Entretanto, há uma luz no fim do túnel. Não é tentando mudar as pessoas que conseguiremos mudar o mundo, mas aproveitando cada individualidade e ajustando-as em harmonia.

   Pode parecer utópico, mas não é.  Basta querer.  O amanhã é fruto do nosso comprometimento hoje.  Não existem promessas que vão ser cumpridas daqui há duzentos anos. Até porque, como não estaremos vivos até lá, então não saberemos se ela de fato foi cumprida.  Assim, podemos começar agora mesmo a fazê-la ser cumprida.
   Comece assumindo sua própria responsabilidade com seus semelhantes, reservando um pouquinho de seu tempo e vida para participar direta ou indiretamente da sua comunidade.  Pare de beber o vinho e comer a hóstia sagrada apenas como vinho e pão, mas como sangue e vinho de Cristo vivo entre nós, tal como ele nos prometeu.

⁵⁴ Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.  ⁵⁵ Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida.  ⁵⁶ Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.
  ¹³Replicou-lhe Jesus: Todo o que beber desta água tornará a ter sede; ¹⁴mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que jorre para a vida eterna. ¹⁵Disse-lhe a mulher: Senhor, dá-me dessa água, para que não mais tenha sede, nem venha aqui tirá-la.
   Só saberemos se é possível se tentarmos...

  Eu Não quis retirar esse texto ainda desta vez, em protesto á crueldade humana.

24 - 03 - 2000
KOSOVO
Mulheres de Kosovo dão à luz a bebês gerados em abuso sexual de sérvios

BONN. Um ano depois de iniciados os 78 dias de bombardeios da Otan em Kosovo, completado hoje, a vida de milhares de fugitivos está longe de voltar ao normal. Dos 900 mil kosovares albaneses que deixaram suas casas, 70 mil continuam longe delas. Sobretudo mulheres sofrem os traumas da guerra e da violência sexual praticada pelos sérvios. Isabela Stock, da organização Medica Mondiale, de Colônia, na Alemanha, conta que pelo menos cem bebês nascidos em Pristina e nas redondezas foram abandonados pelas mães por terem sido gerados em estupros.
A organização abriu um centro de terapia em Gjakove, Kosovo, onde trata 650 mulheres que são duplamente vítimas da guerra. Além de terem perdido casa, marido e de serem marcadas pela violência sexual, são punidas pelo puritanismo e patriarcalismo de suas famílias muçulmanas. Mamara, de 17 anos, vive no centro, acaba de ter um bebê e não tem para onde ir.
- Muitas mulheres se suicidam por não encontrarem uma saída para sua situação - diz Isabela, depois de voltar de uma viagem aos centros de terapia da Medica Mondiale.
      Com o marido, Iso, e a filha de 4 anos, Teuta fugiu de Pristina para a Alemanha pouco depois do inicio dos bombardeios da Otan. Há quatro meses teve mais uma menina, Rida, filha de um desconhecido sérvio, gerada em um dos estupros de que foi vítima nas três semanas que passou numa prisão sérvia. Os quatro vivem em Berlim, num quarto cedido pela Prefeitura, mas em breve serão obrigados a deixar a cidade. Com o fim da guerra, os fugitivos perderam o direito de ficar na Alemanha. A mulher que admite ter sido vítima de estupro é abandonada pelo marido e até pelos pais.

Fonte: O Globo

   Não deixemos nosso foco espiritual centrar na questão do "aborto" ou do "abandono" mas no "estupro", uma das atitudes "humanas" mais cruéis que podem ser cometidas. É uma desgraça que, no limiar do século XXI, ainda existam "homens" que pensem e ajam desta forma.

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