Teologia

página apresentada em 09/07/2000

A música de fundo se chama "Ninguém te ama como eu" e é uma das músicas que mais gosto

Corpus Christi e corpos tristes

  A sociedade capitalista possui um critério terrivelmente injusto: o da utilidade. O útil é valorizado, buscado, desejado, aproveitado, sugado ao máximo. O inútil é desprezado, descartado, marginalizado ou jogado fora como entulho. Na verdade, o útil é o que dá lucro e os nossos melhores sentimentos só são válidos porque eles podem gerar capital.
O amor de mãe é incentivado, o Natal é vivenciado e/ou as datas são comemoradas porque por detrás dessas manifestações estão os lucros altíssimos dos que comandam as nossas vontades. Na verdade, os nossos corpos são cobiçados. Eles inclusive são divididos em úteis e inúteis. O nosso ambiente social exige que tenhamos corpos dóceis, obedientes, habilidosos, bem preparados para o mundo do trabalho. Corpo que não trabalha não serve, Não é por acaso que nossos corpos passam pelas nossas escolas para serem amoldados, enformados, prontos para serem devorados pelo competitivo mundo da labuta.
Não sei se muitas das nossas escolas têm percebido que estão apenas servindo aos interesses mesquinhos de uns poucos poderosos. Nem sempre estamos educando as pessoas para a vida, mas para continuar repetindo o gesto tirânico de acumular. Os corpos que não se adaptar ou não se prepararam para essa roda viva estão fora do mercado e dos privilégios... Que privilégios! E os corpos se debatem na busca dos espaços minguados como as mariposas ao redor das lâmpadas! Como a competição é acirrada, poucos corpos se apoderem dos melhores benefícios enquanto corpos em profusão vivem à margem, comendo dos restos que os ricos jogam fora.
Se você, meu amigo de fé e companheiro da mesma jornada, acha que estou exagerando, dê uma corrida d'olhos pelas ruas, praças e as vila periféricas de nossa cidade: são corpos de crianças que nos aborrecem nos cruzamentos, são corpo migrantes que buscam trabalho, são corpos idosos que vivem desesperados pelo descaso dos governantes, são corpos de mulheres que ainda vivem subjugados pela doença do machismo, são corpos comprado pelo salário de fome que pagamos...
O pior é descobrir que nós mesmo vendemos o nosso próprio corpo. Se você está duvidando, veja qual é o desfigurado! Estranho que os corpo continuem sendo mutilados, desgastados, amordaçados, assassinados e massacrados para que uns poucos mantenham os seus privilégios.
Muitos de nós, cristãos, temos assistidos a tudo de camarote, como se não tivéssemos nada a ver com isso. Se não acontece conosco, não é nosso problema.
Estamos celebrando há muitos anos a festa de Corpus Christi. Fazemos nosso ato de fé na presença real de Jesus como o Santíssimo Sacramento em nossas vidas e nos emocionamos perante Sua presença amorosa, mas ainda relutamos em aceitar a realidade dos corpos, que, costumeiramente chamamos de irmãos, serem consumidos diante nossos olhos. É mais fácil passar horas diante do Cristo Sacramentado que do Cristo que se apresenta todos os dias diante de nós de muitas formas corporais. Temo que esse mesmo Senhor também nos chame de "sepulcros caiados", belos por fora mas podres e fétidos por dentro. 
Ouço com clareza Ele nos alertando: - "Buscai primeiro o reino de Deus e a sua Justiça... " .
Vamos comemorar, de modo sincero e irrepreensível, o Corpus Christi se lutarmos pela não existência de corpos tristes. Esses corpos podem nos incomodar testemunhando contra nossas vidas. Eles serão os sinais lamentáveis de nosso próprio julgamento. Contra fatos não há argumentos. Não permitamos que uma hierarquia de corpos se estabeleça entre nós. Quebremos os muros da ganância e da exploração. Plantemos entre nós jardins floridos onde a planta mais significativa seja o amor! 

ã João José Corrêa Sampaio

Meus comentários


  Impressionante como estamos conectados de forma tão enraizada, tão profunda com os pensamentos da coletividade.  Quando li o texto do Sampaio senti como se estivesse vendo a sociedade dividida em duas partes : uma totalmente distanciada da vida, estando em dúvida sobre onde irá almoçar, se em Paris ou Nova York; A outra, em dúvida se irá comer alguma coisa hoje.

É sem dúvida uma discrepância que nos chama à reflexão.  Se de um lado estou saturado de tanta injustiça, de outro não tenho recurso para sequer pensar em uma solução.  Ao ler Lc 16,19-31:

19 Ora, havia um homem rico que se vestia de púrpura e de linho finíssimo, e todos os dias se regalava esplendidamente.
20 Ao seu portão fora deitado um mendigo, chamado Lázaro, todo coberto de úlceras;
21 o qual desejava alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico; e os próprios cães vinham lamber-lhe as úlceras.
22 Veio a morrer o mendigo, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; morreu também o rico, e foi sepultado.
23 No inferno, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe a Abraão, e a Lázaro no seu seio.
24 E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e envia-me Lázaro, para que molhe na água a ponta do dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama.
25 Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que em tua vida recebeste os teus bens, e Lázaro de igual modo os males; agora, porém, ele aqui é consolado, e tu atormentado.
26 E além disso, entre nós e vós está posto um grande abismo, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem os de lá passar para nós.
27 Disse ele então: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai,
28 porque tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham eles também para este lugar de tormento.
29 Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos.
30 Respondeu ele: Não! pai Abraão; mas, se alguém dentre os mortos for ter com eles, hão de se arrepender.
31 Abraão, porém, lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos.

  
   Me perguntei:"Será que as pessoas pensam que podem estar nessa situação?"  Por quanto tempo ainda continuaremos a ver o mundo apenas com nossos olhos?


  Eu Não quis retirar esse texto mais uma vez em protesto á crueldade humana.

24 - 03 - 2000
KOSOVO
Mulheres de Kosovo dão à luz a bebês gerados em abuso sexual de sérvios

BONN. Um ano depois de iniciados os 78 dias de bombardeios da Otan em Kosovo, completado hoje, a vida de milhares de fugitivos está longe de voltar ao normal. Dos 900 mil kosovares albaneses que deixaram suas casas, 70 mil continuam longe delas. Sobretudo mulheres sofrem os traumas da guerra e da violência sexual praticada pelos sérvios. Isabela Stock, da organização Medica Mondiale, de Colônia, na Alemanha, conta que pelo menos cem bebês nascidos em Pristina e nas redondezas foram abandonados pelas mães por terem sido gerados em estupros.
A organização abriu um centro de terapia em Gjakove, Kosovo, onde trata 650 mulheres que são duplamente vítimas da guerra. Além de terem perdido casa, marido e de serem marcadas pela violência sexual, são punidas pelo puritanismo e patriarcalismo de suas famílias muçulmanas. Mamara, de 17 anos, vive no centro, acaba de ter um bebê e não tem para onde ir.
- Muitas mulheres se suicidam por não encontrarem uma saída para sua