Teologia

página apresentada em 07/03/2000

A música de fundo se chama "Ninguém te ama como eu" e é uma das músicas que mais gosto

Bíblias criam poeira e o amor é esquecido

Gosto de polemizar. Mas não de polemizar por polemizar. Nem de brigar, agredir ou ofender. O que eu gosto mesmo é de jogar idéias em discussão. Gosto de ouvir outras opiniões. Porque sinto a riqueza das pessoas. Percebo que a criatividade é algo maravilhoso. Como é delicioso verificar soluções desiguais para o mesmo problema ? - penso maravilhado, quando presencio um debate. Isso me leva a reciclar. Muitas vezes, durante uma polêmica, percebo que outras pessoas têm opiniões melhores que as minhas. E fico feliz. Porque aprendo e tenho chance de mudar minhas opiniões. Cresço, amadureço, melhoro sempre. O mundo seria melhor se as pessoas estivessem prontas para mudar. Abertas ao diálogo, ao entendimento, à informação e, principalmente, ao amor. Um líder americano, evangélico, disse que em todas as casas daquele país existem uma ou mais Bíblias. É o livro líder em vendas nos Estados Unidos. Porém, o que mais junta poeira nas estantes. Não vou me arriscar em dizer que no Brasil acontece a mesma coisa, pois não vi nenhuma estatística a respeito. Mas acho que na maioria das casas brasileiras e de todos os países do mundo acontece algo parecido. As Bíblias mais luxuosas, inclusive, servem como mero objetivo de coração. Acho isso, por uma razão simples: se esse livro fosse lido teríamos um mundo de paz, solidariedade e amor. Mas o que vemos ? Guerras explodindo por motivos religiosos. Isso mesmo. E em toda a história da humanidade, seguramente 90% ou mais, as guerras estão calcadas em motivos religiosos. Lamentável! A Bíblia está toda fundamentada no amor. Fala de guerras sim, mas como alerta. É o livro da iluminação. Verdades que ela contém, como “Ame o teu próximo como a ti mesmo” ou a postura firme de Cristo contra os “puxa-sacos” fariseus, são suficientemente fortes para esclarecer até ao “meio entendedor”. Homens, nas igrejas, templos, salões, infelizmente disputam mais o poder do que exaltam o amor. Sacerdotes e pastores criticam a igreja do outro, ou a crença do outro. Um mais exaltado chegou a chutar uma imagem, desrespeitando a fé dos semelhantes. Quanta burrice! A mesma igreja que deseja ampliar seus fiéis, mantém à margem padres casados, que até se organizam em associação. Acredito que com maior abertura, diálogo, esses padres casados seriam importante fonte para a evangelização, pois são teólogos, filósofos, pedagogos, preparados na fé cristã. O “grande pecado”: deixaram a batina pelo amor humano e formaram suas famílias. Assumiram esse amor perante todos, com coragem de enfrentar preconceitos, optando pela verdade e recusando as máscaras da hipocrisia. Deus defendeu a pecadora, desafiando seus justiceiros a atirarem pedras se não contivessem pecado. Mas o homem, pelo poder e dominação, se recusa a perdoar quem assume o amor. Isso não compreendo. O Deus é o mesmo. Somos católicos, protestantes ou espíritas, filhos da mesma religião judaico cristã. Portanto, somos apenas igrejas diferentes, ou políticas diferentes. Então, porque guerras e ofensas ? Quando a igreja católica propôs, na Campanha da Fraternidade o tema “Eis-me aqui Senhor!”, para que todos nós, cristão, víssemos em nosso semelhante o próprio Cristo, fiquei fascinado com o avanço. Neste ano, mais ainda com a proposta da discussão política. Ou seja: temos que abrir a polêmica para melhorar nossa organização social e a própria humanidade. Pouca gente, entretanto, aceita discutir o assunto. Ninguém se recusa a receber o candidato a um cargo público em sua casa. Pelo contrário, sente- se até honrado. Mas repudia evangélicos que querem falar de Deus - uma função que todos cristãos deveriam realizar. Evidentemente, com diálogo, podemos expor que pensamos diferente numa situação assim mas jamais ofender, “bater a porta na cara” ou ameaçar. David Viscott, psicanalista americano, diz que o mundo é um imenso quebra-cabeças. Cada pessoa, dentro de sua própria ótica, monta as peças. Ou seja, eu vejo e construo o mundo da minha forma. Enquanto você, vê e constrói de outra. Assim, apenas exponho neste espaço o que penso. Gostaria de saber opiniões de pessoas que pensam diferente. Estou aberto a ensinamentos que aprimorem sempre a minha maneira de pensar e montar melhor o meu quebra-cabeças. Cristo morreu porque disse que o amor está acima da lei dos homens e, em sua época, nada poderia ser maior que a lei. Não sou teólogo. Sou apenas pecador. Não sou futurólogo, mas otimista. Apesar das guerras religiosas e das ofensas entre Igreja acredito que a humanidade caminha para melhor, principalmente através da globalização. Hoje, fase é de apreensão, mas, com certeza, o homem avaliará a sua posição perante o mundo, repensará seus erros históricos e descobrirá o amor. Agradeço a Ele pela oportunidade de existir. Penso que a humanidade ainda vive muita violência, tristezas, desumanização, pela ausência ou falta de cultivo da espiritualidade e dos valores que Ele passou. Tão cristalinas naquele livro que empoeira-se em nossas estantes. Nunca o homem precisou tanto do amor como agora. Do amor vivo. Precisamos ensinar em nossas casas. Precisamos passar os valores da vida; da solidariedade. Penso que precisamos de maior maturidade em todas as crenças, para que as disputas sejam substituídas pelo ensino e prática do amor. Só assim as guerras cessarão, os muros de nossas casas serão derrubados, as pessoas voltarão a se reunir nas caladas, uns sorrirão aos outros, a fome será debelada e o homem estará mais próximo da imagem e semelhança com Ele. Utopia? Prefiro ser otimista e achar que isso é possível, lembrando a história do passarinho “fazendo a sua parte” ao apagar o incêndio, como contou Herbert de Souza, o Betinho, em propaganda de Televisão. Betinho se diz ateu. Acho que não o é, ao fazer o movimento pela solidariedade, mesmo sen se dizer cristão, estava praticando o papel que Cristo pediu a todos nós: vivam o amor!

© Rui Batista de Albuquerque Martins

Caros Irmãos:

Este é um texto de um escritor sorocabano que diversas vezes me surpreendeu. Quer seja pela franqueza de falar, quer seja pela sátira social, quer seja pelo calor humano e sentimental com que inúmeras vezes ele agradeceu em público àqueles cujo aprendizado fizeram dele o homem que ele é hoje. Rui Batista de Albuquerque Martins escreve para o diário de Sorocaba ás quartas feiras, e confesso que todas as vezes que pude ler aprendi alguma coisa nova. Ele não é o único sorocabano que deixa marcas em minha memória, futuramente tratarei de outros autores, que embora ainda não os conheça pessoalmente ou tenha conhecido, ainda influenciam tantas pessoas a fazerem, ao menos, uma reflexão sobre o que somos em nosso dia-á-dia.


"Pai, obrigado por vossas inúmeras bênçãos, tanto por aquelas que eu percebi, quanto pelas que não vi. Enche ainda mais de vossa graça e deixai que vosso amor flua através de mim para todos os que eu encontrar hoje."
© A palavra entre nós - Dezembro/99 Janeiro/2000 - Pág 49


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